Mocinho de Novela

Amar na pós-modernidade significa escolher entre trocar de par freneticamente na ciranda das paixões ou simplesmente ficar a par de tudo e entregar-se ao grande amor, encontrar o par daquela valsa que antes fora triste e delirante. Estamos em uma época em que estar junto e estar só é tão somente uma questão de segundos, de um evento, uma festa onde a música esteja muito alta e ninguém possa trocar palavras, apenas olhares. E nessa troca e destroca há aqueles que sofrem, os que se divertem e os que não estão nem aí. Tenho um amigo que é daqueles que sofre, mas sofre tanto que dá pena. É o tipo mocinho de novela, bonitinho, trabalhador, estudioso e com ar de timidez e malícia, perfeito né? Eu sinceramente até me casaria com a descrição que fiz dele, mas o cara não tem sorte, enamora-se perdidamente por meninas que são do time das "nem aí", e já se viu tudo né, com jeitinho descolado, meigo e cheio de artimanhas elas o seduzem e depois quando conseguem um cara do time dos que "se divertem" elas simplesmente descartam o mocinho de novela e não, elas não ficam com ele no final, nem no final da festa. A ciranda pós-moderna exige um ritmo mais vibrante, como um eletro ou para os mais cheios de energia, como um psy. E mocinhos de novela não gostam de rodar de mão em mão, eles gostam de compartinhar o olhar, o sabor agridoce de um relacionamento, não disparam no primeiro problema, afinal, eles são os mocinhos, os tipos que não fogem da luta, sofrem pra sorrir no final, mas quando será o final de um sofrer em seqüência, de uma furada atrás da outra? De complicadas à dissimuladas a novela do herói romântico vai se tornando uma comédia triste. Mas pensando bem, melhor sofrer de amor que não ter história pra contar, melhor chorar pelas lembranças de um beijo de adeus, que não lembrar de beijo algum, de nada em especial, de nenhum grande momento, melhor mesmo é ser como os mocinhos, morrer de amor, mas bom mesmo seria se ele deixasse de se fazer de vítima e percebesse que há mais mocinhas ao seu redor que sua pobre alma supõe.