Frisson de Verão

É incrível a força do calor. Quando ele chega, tudo se transforma, as frutas se colorem, de vermelho, roxo ou lilás, tudo vibra intensamente, até um coração glacial. E este pulsar inebriante como uma canção de Mali na voz de Touré me faz lembrar uma história, de uma menina que sonhara com um destino muito diferente da vida pública e burocrática de hoje. Esse sonho era simples e romântico, como todo sonho de menina. Nele estava um moço de chapéu, um mapa guiado por satélite, dois labradores e duas crianças, eles corriam pelo deserto em um jeep, daqueles estilo do exército, sabes? iam em busca de aldeias africanas no deserto do Saara, levar medicamentos, fazer fotos coloridas, mostrar a vida daquele povo em páginas da NatGeo Magazine. Era uma imagem que ela tinha na mente, como algo vivido ainda por ser vivenciado... e foi que um dia ela conheceu um moço de chapéu e achou que era o mesmo do sonho, mas chapéus se compram no armazém do Seu Nenê. Só que ela se enamorou daquela imagem, do moço, das árvores, das estrelas, e todo o resto que compuha aquele cenário de uma rave, pessoas loucas e acessórios neon. E aquele frisson de verão os acompanhou até hoje, e eles sempre se encontram, e repetem o mesmo ritual de desencontro, mas eles não irão para a África, ela agora tem outros planos, muitos papéis, e ele, ele virou músico, não pode mais rastrear aldeias no deserto. E a menina e o moço se despertam na chegada do verão, como as frutas de cores fortes, e no inverno... no inverno eles fogem para suas cavernas, como lobos selvagens.