Balzaquiana Pós-Moderna

Balzac descreveu as mulheres, através de Julie, como criaturas passionais, frívolas e até mesmo levianas, isso porque Julie não aceitou as regras impostas pela sociedade francesa da época, que pelo que vemos, não mudou muito. Às vistas de nossas sociedades, uma mulher de 30 anos, pouco menos ou pouco mais, que não sonha em casar-se, mas que tem como objetivo trabalhar com o que gosta, desfrutar de seu dinheiro viajando e adquirindo experiência e cultura, tem apenas duas opções de identidade: ou ela é lésbica ou ela é puta.

Como se ser gay ou ter como profissão a prostituição, fosse um delimitador para a vida de alguém. Mas o que isso significa é que para as sociedades machistas, na qual vivemos, é inconcebível a idéia de uma mulher jovem ter uma profissão, trabalhar, ser reconhecida, viajar sozinha ou com amigos, não se prender à relacionamentos por conveniência, carência ou imposição.

Pois é Balzac, estamos aí, rebeldes à idéia do casamento por quem não sentimos nada, nem admiração, nem atração, porque se temos que ser bonitas, se a beleza física importa para os homens, para nós também, não nos esforçamos horas na academia de ginástica, não ficamos um tempão nos salões de beleza para nos casarmos com criaturas horrendas e desleixadas. Queremos tudo que Julie queria, aventuras amorosas com belos rapazes, porém, no caso das mulheres pós-modernas, os desejamos inteligentes e sensíveis à nossa natureza passional. Os queremos para compartilhar nossas aventuras, como parceiros, não como impositores de regras comportamentais que depois da nossa primeira ruga, nos trocam por vícios e lascívia.

Não, as balzaquianas de hoje devem ser vistas como mulheres vencedoras, maravilhosas e sem medo de viver como os felinos, donas da sua vida, senhoras de sua trajetória.