17.11.06

berço redentor

E chove na cidade da puta alegre, enquanto sentada espero o sangue pesado descer a cordilhera de minhas pernas cansadas. No rádio uma triste canção que não entendo no primeiro instante. Vozes que pedem atenção, talvez seja o medo da solidão, angústia daqueles que envelhecem diante das nuvens carregadas de chuva. Chuva esta que vem amenizar o sertão das flores na sacada do menino perdido. Mas em tempos de guerra, quem não está perdido? Estamos todos pasmos diante do Século XXI, senhor de muitas promessas da evolução humana, dono da juventude que ateia fogo pra espantar o tédio, que devora todas as comidas do mundo na esperança de ser amado. Dono dos momentos estáticos cheios de vida diante dos sentimentos efêmeros comprados pelo controle remoto. Controle. Controle. Controle. Todos pedem controle do seu destino, mas o amanhã é incerto pra quem cresceu no país onde suas leis perdem validade no próximo decreto. Validade tiveram meus sorrisos e meus discursos ao saber que não caibo mais no berço redentor de minha cidade natal.


Porto Alegre, 17 de nov. de 2006

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